Apresentação
Este livro nasceu da dor, mas também da necessidade de se libertar dela. Cada palavra aqui escrita é um pedaço da alma de uma mulher que viveu o amor, o luto, a culpa e a esperança. Não é uma história inventada, é um desabafo sincero de quem descobriu que o tempo não cura tudo, mas ensina a caminhar com cicatrizes.
Capítulo 1: A menina de Itacoatiara
Nasci em Itacoatiara, um pedaço do Amazonas rodeado de rios e mato, onde a vida é simples, mas nem sempre justa. A cidade era pequena, o futuro parecia ainda menor. Foi por isso que minha mãe decidiu partir. Ela não foi egoísta — ela foi corajosa. Queria dar a mim e a ela mesma uma chance diferente. Um futuro. Então, seguimos para Manaus, carregando na mala esperança, medo e saudade.
Eu tinha apenas sete anos quando tudo mudou. Não sabia que aquela mudança era só o começo das perdas. Dois anos depois, a notícia que nenhuma criança merece ouvir chegou: meu pai havia perdido a batalha contra o câncer. Recebemos a notícia da boca da minha mãe, mas foi como se o mundo gritasse dentro de mim e, ao mesmo tempo, se calasse. Eu não chorei. Não gritei. Não reagi. Só senti o chão sumir.
O caixão estava ali. Meu pai também, mas não mais do jeito que eu lembrava. Algodão no nariz, olhos fechados. Um silêncio que feria. E mesmo assim, nenhuma lágrima descia. Eu me perguntava: por que não consigo chorar? Será que não o amava o bastante? A resposta só veio com o tempo — era o meu jeito de sobreviver.
A menina que não chorou naquele dia cresceu com perguntas demais dentro do peito. E um dia, essa mesma menina se viu chorando sem parar, tentando entender por que a vida leva embora as pessoas que mais amamos. Talvez seja pra ensinar a seguir mesmo quando o coração está despedaçado.
Minha mãe virou pai e mãe. E mesmo com a dor dela, nunca deixou de lutar por mim. Hoje, se eu sou alguma coisa, é por ela. Ela plantou o que pôde, regou com esforço, mesmo sem descanso. Só queria ver a gente bem, mesmo que ela mesma estivesse em pedaços.
E eu? Eu terminei o ensino médio tarde, tropeçando, mas terminei. E foi nesse caminho que encontrei Fredson — um nome que, até hoje, pulsa em mim com saudade e amor.
Capítulo 2: O luto que veio cedo demais
A morte do meu pai foi um divisor de águas na minha vida. Eu era só uma criança, mas naquele momento envelheci por dentro. Não foram só os dias que mudaram — eu mudei. Cresci calada, carregando uma dor que ninguém via. Por fora, eu parecia firme. Por dentro, eu gritava.
Enquanto o tempo passava, eu me perguntava por que não consegui reagir. Por que meus olhos não derramaram lágrimas? Será que eu era fraca? Ou será que era forte demais e nem sabia? Com o passar dos anos, descobri que o luto tem muitas formas. Tem gente que chora na hora. Tem gente que só sente o vazio. E tem gente, como eu, que demora pra entender o que perdeu. Mas quando entende… a dor vem inteira.
Eu me vi perguntando ao mundo por que ele é tão cruel. Por que tira da gente quem mais amamos? Por que tão cedo? Por que sem aviso? E não há resposta. Só silêncio. E uma saudade que cresce.
Essa dor me acompanhou por muito tempo, como uma sombra silenciosa. E mesmo com a tristeza, minha mãe seguiu firme. Ela não chorava na minha frente. Ela segurava tudo, como se dissesse com o olhar: “Você ainda tem a mim.” E eu tinha. Mesmo com o coração dela em pedaços, ela me dava colo. Era força, era abrigo, era tudo.
Crescer sem um pai é difícil. Mas crescer com uma mãe que luta por você todos os dias é uma bênção que muita gente não reconhece. Hoje eu reconheço. Cada esforço dela, cada lágrima escondida, cada comida simples posta à mesa era um “eu te amo” silencioso. E eu aprendi a entender esse amor.
Mesmo com tudo isso, o tempo foi passando. Eu fui tentando viver, aprender, crescer. Mas uma parte de mim ainda estava lá: sentada, pequena, diante de um caixão, sem saber como reagir à perda mais dura da minha vida.
Capítulo 3: Um amor chamado Fredson
Foi no meio de tudo isso que ele apareceu. No fim do ensino médio, quando eu só queria terminar e deixar tudo pra trás. Eu estava cansada, desacreditada, sem grandes planos. E então, Fredson surgiu como quem não quer nada — e sem saber, mudou tudo.
Ele não chegou com promessas ou juras exageradas. Ele chegou com presença. Com paciência. Com um carinho diferente, aquele que toca na alma sem precisar de palavras. Fredson foi o primeiro a me enxergar além das minhas cicatrizes. Ele via algo em mim que nem eu mesma conseguia ver.
Ele me mostrou o que era amor, mesmo quando eu não sabia reconhecer. Me levou pra lugares que nunca tinha ido, não só fisicamente, mas emocionalmente. Me mostrou que eu podia sonhar. Que eu podia ser mais. Ele falava em faculdade, em futuro, em crescer juntos — e eu, mesmo morrendo de medo, comecei a acreditar.
Mas eu tinha medo. Muito medo. Eu fugia das oportunidades. Sempre arrumava um jeito de me esconder. Era como se eu achasse que não merecia aquilo tudo. Que eu não era suficiente. Que um amor tão bonito assim não poderia ser pra mim.
Fredson me acolheu com todas as minhas inseguranças. Ele queria o meu melhor, mesmo quando eu dava o pior de mim. Era ele quem segurava o relacionamento nas costas, quem sempre voltava, quem perdoava. E isso, com o tempo, também foi se desgastando.
Eu cobrava tanto. Queria atenção, cuidado, amor — mas, no fundo, eu mesma não oferecia isso da forma que ele merecia. Não era por maldade. Era por medo, por frieza, por traumas não curados. Mas isso não justifica. Porque amor precisa ser cuidado. E eu deixei nosso jardim morrer aos poucos.
Fredson me ensinou o que era amar, o que era se doar, o que era estar presente de verdade. E hoje, olhando pra trás, eu sei: ele foi o amor mais puro que passou pela minha vida. E talvez, o único.
Capítulo 4: Quando o coração quebra
O fim chegou sem pedir licença. Dia 30 de abril de 2025, entre 23h e meia-noite, tudo desabou. Nosso relacionamento, que já caminhava sobre fios, se partiu de vez. E com ele, meu coração. Aquilo que eu mais temia aconteceu — e dessa vez, não tinha volta.
A gente sempre acha que vai dar tempo de mudar, de consertar, de fazer diferente. Mas não deu. Eu errei. Errei ao não ser sincera, ao cobrar mais do que eu dava, ao esperar amor sem oferecer o meu. E ele, cansado de carregar tudo sozinho, decidiu soltar. E quando ele soltou… tudo despencou.
Eu sei que ele me perdoou muitas vezes. Sempre foi assim. Ele era o coração e eu era o muro. Mas até um coração cansado precisa de descanso. E o dele não aguentou mais. Eu entendi, tarde demais, que perdão demais também machuca. Que amor que perdoa tudo sem retorno vira sofrimento.
Ele foi embora com os olhos tristes. E eu fiquei com o peito vazio. É como se alguém tivesse arrancado uma parte do meu corpo e deixado um buraco. Chorei como criança, me desesperei. Gritei, sufoquei, me culpei. O desespero foi tanto que dormir com uma faca do lado parecia mais fácil do que aceitar a dor. Mas Deus segurou minha mão, mesmo quando eu quis largar tudo.
O luto do fim de um relacionamento é real. É como perder alguém que continua vivo. É sentir falta de um sorriso, de uma presença, de uma voz — e saber que não pode mais tocar. Meu coração entrou em luto. Minha alma gritou. Meu corpo parou. E, por dentro, era só silêncio e dor.
Ele era tudo pra mim. E eu não percebi o valor que ele tinha até o perder. Aquela taça linda, cheia de amor, caiu no chão pelas minhas mãos. E mesmo que eu tente juntar os cacos, não dá pra voltar ao que era. Porque, às vezes, o que quebra, não quebra só por fora. Quebra por dentro também.
Dizem que quem bate esquece, mas quem apanha, não. E hoje eu entendo. A dor que causei não foi leve. E mesmo querendo voltar, mesmo desejando um recomeço, sei que os olhos dele nunca mais me verão da mesma forma. E talvez, eu nem mereça que vejam.
Capítulo 5: A dor da perda e a culpa
A dor de perder alguém que continua vivo é um dos sentimentos mais solitários que existem. Porque a pessoa está lá, no mundo, respirando, vivendo — mas já não é sua. E isso despedaça por dentro. Me senti em luto. Como se tivesse enterrado o amor da minha vida, mesmo sabendo que ele ainda caminha por aí. Só que agora, sem mim.
Meu peito ficou apertado, como se as lágrimas pesassem mais do que o ar. Nada fazia sentido. Eu não conseguia comer, não conseguia sorrir. Só escrever. Escrever foi meu refúgio. Meu corpo chorava por dentro, e as palavras escorriam no papel como sangue da alma. Cada frase que eu colocava era um pedaço de mim tentando encontrar algum consolo.
A culpa virou companheira. A cada lembrança, ela aparecia. A cada sorriso que ele me deu, eu lembrava do quanto fui fria. Ele me dava tudo e eu dava o mínimo. Ele me surpreendia e eu me escondia. Ele me oferecia o mundo e eu lhe dei silêncio. E agora que tudo acabou, só o que me resta é agradecer... e chorar.
Quis sumir. Desaparecer. Deixar de existir por um tempo. Eu me sentia um peso. Um erro. Me via como a culpada por tudo. E talvez eu fosse. Mas também sei que eu amava. Amava do meu jeito, torto, inseguro, silencioso. E talvez isso não tenha sido suficiente, mas foi verdadeiro.
Eu queria voltar no tempo. Queria cuidar do nosso jardim antes que as flores escurecessem. Mas deixei elas sem sol, sem água, sem atenção. E quando fui tentar salvar... já era tarde. Só sobrou a terra seca e o cheiro de fim.
Ainda assim, mesmo entre a dor e o arrependimento, meu amor por ele continua. Porque o verdadeiro amor não morre — ele adormece dentro da gente, esperando um lugar seguro pra florescer de novo. Talvez com outra pessoa, talvez em outra fase, talvez nunca mais.
Eu quero que ele seja feliz, mesmo sem mim. Que encontre alguém que cuide dele como ele cuidou de mim. Que receba os sorrisos que ele sempre me deu. Porque ele merece. Porque ele foi amor.
E eu... sigo tentando me perdoar. Sigo tentando me entender. Talvez um dia eu mude, talvez um dia eu floresça de novo. Por agora, só resta o silêncio — e as palavras que deixei aqui, como prova de um amor que existiu e marcou minha alma para sempre.
Capítulo 6: A dor da mudança e o início da cura
O dia 1º de maio chegou como um suspiro cansado. O corpo ainda doía. A alma, então, nem se fala. Mas, de alguma forma, naquele dia, algo mudou. A ficha caiu. A realidade, fria e dura, finalmente me alcançou: ele se foi. E não tinha volta. Não como antes.
Acordei menos triste. Não porque a dor passou, mas porque, de algum modo, eu comecei a entender que ela fazia parte. Que viver o luto era necessário. Que fingir força só atrasa a cura. Então, deixei doer. Deixei rasgar por dentro. Deixei as lágrimas caírem sem pressa, sem vergonha.
Aceitar é um processo lento. É caminhar sobre cacos de vidro todos os dias até eles pararem de machucar tanto. E naquele dia, comecei a ver isso. Que seguir em frente não é esquecer, mas aprender a lembrar sem desmoronar. Que amadurecer é encarar o espelho e admitir: “Eu errei. Mas agora, eu quero mudar.”
Me peguei lembrando de todos os momentos bons. Das risadas, dos abraços, das conversas na madrugada. De tudo que construímos com amor. Porque, mesmo que tenha terminado, foi amor. Foi real. E isso ninguém pode tirar da gente.
E foi nesse pensamento que comecei a orar. Falei com Deus. Me curvei diante Dele e pedi força. Pedi que Ele acalmasse minha alma, que me ajudasse a enfrentar essa dor sem me perder de mim mesma. Porque eu sabia: se alguém podia me levantar daquele chão, era Ele.
A verdade é que a gente só valoriza quando perde. Mas isso também ensina. Ensina a amar melhor, a ser mais verdadeira, a cuidar mais do que é precioso. Aprendi, com essa perda, que relacionamentos precisam de verdade, de lealdade, de entrega. Que não basta dizer “eu te amo” — é preciso mostrar.
E, no meio do caos, comecei a escrever. Escrever me curou um pouco. Me deu voz. Me deu espaço pra existir, mesmo em pedaços. Porque enquanto eu escrevia, era como se meu coração dissesse: “Ei, ainda tô aqui. Ainda tenho amor. Ainda quero florescer.”
Talvez um dia, essa dor vire lembrança. Talvez um dia eu olhe pra trás com carinho e não mais com culpa. Talvez um dia, eu me perdoe de verdade.
Mas por agora, sigo respeitando meu tempo.
Capítulo 7: As flores que escureceram em abril
Abril chegou como um jardim em silêncio. Um mês que parecia comum, mas que levava escondido em si o peso do adeus. Foi ali, entre dias nublados e noites longas, que as flores do meu coração começaram a escurecer. Uma a uma. Em silêncio. Sem eu perceber.
O amor ainda existia. Estava lá, firme, em cada gesto, em cada palavra, em cada tentativa dele de salvar o que já estava morrendo. Mas eu não vi. Ou talvez tenha fingido não ver. E, aos poucos, deixei de regar nosso jardim. Esqueci que o amor, pra viver, precisa de cuidado. De presença. De atenção.
As pétalas caíram. O cheiro doce virou ausência. O que era verde, vivo, virou sombra. E quando me dei conta… o jardim tinha morrido. E não foi culpa do tempo, nem do vento. Foi minha. Fui eu que deixei as flores escurecerem.
Mas por que as flores escurecem?
Porque quando a gente não cuida, a beleza vai embora. Porque quando deixamos a insegurança falar mais alto que o carinho, o amor se encolhe. Porque quando não dizemos o que sentimos, o silêncio grita mais alto. E foi esse silêncio que matou nossas flores.
Abril será, pra sempre, o mês em que perdi o amor da minha vida. Mas também será o mês em que comecei a me encontrar. Porque no escuro daquele jardim, eu enxerguei quem eu fui, quem eu sou, e quem eu ainda posso ser.
Talvez as flores não voltem. Talvez aquele jardim não renasça. Mas agora eu sei: quando um amor se vai, ele leva uma parte da gente, sim — mas também deixa sementes. E essas sementes, um dia, podem florescer de novo. Em outro lugar. Com mais luz. Com mais verdade.
E, se algum dia, ele quiser voltar… eu estarei aqui, com um novo jardim. Mais maduro. Mais vivo. Mais forte.
Porque as flores escureceram em abril. Mas isso não quer dizer que elas morreram pra sempre.
Capítulo 8: Carta para Fredson
01 de maio de 2025
Fredson,
Se essa carta chegar até você, que seja com calma, com respeito, com verdade. Que ela seja lida com o coração aberto — assim como está sendo escrita. Não é fácil colocar em palavras tudo que ficou preso aqui dentro. Mas hoje, eu preciso tentar.
Você foi o amor mais bonito que a vida me deu. Foi a calmaria no meio da minha confusão, foi abraço quando eu só sabia afastar. Foi cuidado quando eu me perdia de mim mesma. Você foi tudo, e eu fui menos do que você merecia. E por isso, hoje, escrevo não só com amor — mas com arrependimento, com gratidão e com uma dor que não sei descrever.
Eu errei. Errei ao não cuidar, ao não ouvir, ao não demonstrar. Fui fria quando devia ter sido quente. Fui distante quando você só queria proximidade. E mesmo assim, você ficou. Você me perdoou tantas vezes… e eu fui me perdendo nas minhas falhas. Até o dia em que você precisou ir.
E tudo escureceu.
Eu sei que feri seu coração. Eu sei que palavras não consertam o que foi quebrado. Mas mesmo assim, eu queria que você soubesse que nada disso foi por falta de amor. Foi por falta de maturidade, por medo, por insegurança. Foi por eu ainda não saber amar do jeito certo. Mas eu amei. Amei você com tudo que eu podia oferecer — mesmo que fosse pouco.
Hoje, eu só peço perdão. Perdão por cada lágrima que você escondeu, por cada silêncio que você engoliu, por cada vez que você acreditou que valia a pena continuar, mesmo quando eu te mostrava o contrário.
E, apesar de tudo, eu desejo do fundo da alma que você seja feliz. Que encontre alguém que te enxergue como eu demorei a enxergar. Que te valorize desde o primeiro dia. Que saiba te amar sem medo, sem fuga, sem desculpas. Porque você merece um amor inteiro, limpo, leal — como o que você sempre tentou me dar.
Se algum dia, mesmo que daqui a muitos anos, o destino quiser nos cruzar de novo… e se no seu coração ainda houver espaço, saiba que eu estarei aqui. Não como antes. Mas como alguém que aprendeu. Que cresceu. Que agora sabe o valor de cuidar do jardim.
Te amo, Fredson Maia. Pra toda a vida. Mesmo que seja só em silêncio.
Com carinho,
Jaqueline
Capítulo 9: As quatro fases da superação
Superar não é esquecer. Não é apagar tudo e fingir que nada aconteceu. Superar é aceitar que algo foi importante, mas que chegou ao fim. Que doeu, que marcou, mas que agora precisa ficar onde pertence: no passado. E esse processo, tão difícil, acontece em fases. Eu vivi cada uma delas. E aqui está o que aprendi.
1. O mundo desaba em mil pedaços
A primeira fase é o caos. É o momento em que o chão some, o ar falta, e tudo parece não ter sentido. Você acorda e a dor já está te esperando. Dorme e ela ainda tá lá, apertando o peito. Chora escondido, grita por dentro, pede pra voltar no tempo. Mas o tempo não volta. E a única coisa que resta é sobreviver a esse luto.
2. O luto
É aqui que a dor vira rotina. Você para de negar e começa a entender que acabou. A presença da pessoa continua em cada canto, mas agora é ausência disfarçada. Tudo lembra. Uma música, um cheiro, uma foto. É como perder alguém para a morte — só que essa pessoa ainda vive, só não vive mais com você. É o momento em que o coração começa a cicatrizar, mesmo sangrando.
3. A aceitação
Após tanto doer, o coração se cansa. E começa, aos poucos, a aceitar. Não porque esqueceu, mas porque entendeu que a vida precisa continuar. Você começa a lembrar sem desmoronar. Consegue sorrir de novo. Aprende que amar alguém também pode significar deixá-lo ir. A saudade ainda existe, mas não manda mais em você.
4. A liberdade
É aqui que você respira fundo e percebe: “Eu sobrevivi.” A dor não domina mais seus dias. O amor virou memória. E você virou alguém novo. Mais forte. Mais consciente. Mais preparado para viver de verdade. Liberdade não é não sentir mais nada — é sentir e, mesmo assim, seguir em frente.
Essas quatro fases são como estações. Elas passam. Cada uma com sua dor, sua lição, sua beleza escondida. E no fim, você floresce. Talvez não como antes, talvez com marcas, com raízes mais profundas. Mas ainda assim, floresce.
Porque o coração, mesmo machucado, sabe renascer.
Capítulo 10: A mulher que renasceu das cinzas
Depois da dor, depois das lágrimas escondidas no travesseiro, depois das noites em claro e dos dias em silêncio... algo mudou dentro de mim. Não foi da noite para o dia. Foi aos poucos. Quase imperceptível. Mas aconteceu: eu renasci.
Não foi um renascimento bonito como nos filmes. Foi suado, solitário e cheio de recaídas. Tive que me reconstruir aos pedaços. Encarar o espelho e ver não só o que sobrou de mim, mas o que eu ainda podia ser. Olhar pra minha história e entender que nem tudo foi fracasso — foi aprendizado.
A mulher que se levantou depois do fim já não é a mesma que amou com medo, que chorou escondida, que implorou pelo que já não existia. Agora, ela entende que o amor precisa ser inteiro, mas que o amor-próprio tem que vir primeiro.
Eu olhei para as minhas feridas e resolvi não as esconder. Resolvi transformá-las em força, em lembrança, em guia. O amor que perdi foi o mesmo que me empurrou para o encontro mais importante da minha vida: o encontro comigo mesma.
E hoje, mesmo com cicatrizes, eu escolho caminhar. Escolho me cuidar. Escolho me amar. Não pra esquecer o passado, mas pra fazer dele um trampolim. Para que minha nova versão não carregue culpa — mas consciência. Não carregue dor — mas transformação.
Se algum dia alguém me perguntar quem eu sou, eu direi com firmeza:
"Sou a mulher que amou, caiu, se perdeu. Mas que também se levantou. E que hoje floresce, mesmo que tenha renascido das cinzas."
Capítulo 11: A dor não é o fim
Quando a dor chega, ela grita. Ela invade tudo. Tira o sabor da comida, o brilho dos olhos, a paz do coração. A gente sente que vai afundar, que nunca mais vai ser feliz, que nada vai cicatrizar. Parece o fim. Mas não é.
A dor é só uma parte do caminho.
Ela vem pra mostrar o que precisa ser olhado com mais cuidado. Vem pra fazer crescer. E, por mais cruel que pareça, ela também ensina. Ensina sobre limites, sobre o valor de quem somos, sobre o que realmente importa. A dor nos quebra, sim. Mas também nos refaz — com mais verdade, mais firmeza e mais alma.
A dor não é bonita. Mas o que ela constrói depois... é.
Se você está no meio da tempestade, segura firme. Respira. Chora, se for preciso. Mas não desiste de você. Porque tem vida depois do caos. Tem recomeço depois da perda. Tem amor depois do adeus. E tem luz mesmo quando tudo parece escuro.
Talvez agora pareça impossível. Mas vai passar. Um dia, sem perceber, você vai sorrir de novo. Vai olhar para o céu com gratidão. Vai se amar como nunca. E vai entender: a dor te moldou, mas não te definiu.
Você não é só o que perdeu.
Você é o que escolhe construir a partir disso.
Então, levante-se. Não pra esquecer o que doeu, mas pra honrar a sua própria história.
A dor não é o fim.
É só o começo de quem você vai se tornar.
Agradecimentos
Agradecer é honrar o caminho. E mesmo entre dores e despedidas, o meu coração encontra motivos pra dizer: obrigada.
Obrigada, Deus. Porque mesmo quando eu pensei que estava sozinha, o Senhor me carregou nos braços. Naquelas noites em que meu peito doía e eu quase desisti, foi a Tua voz que me acalmou. Foi a Tua presença que me sustentou. E hoje eu entendo: nada acontece sem um propósito.
Obrigada, mãe. Por ser minha fortaleza, meu exemplo de coragem e resiliência. A senhora nunca soltou minha mão. Lutou, chorou escondido, mas sempre sorriu por mim. Foi pai e mãe. Obrigada por me ensinar o que é amor verdadeiro.
Obrigada, Fredson Maia. Por entrar na minha vida e ter deixado marcas tão profundas. Por me mostrar o amor, por me apoiar, por cuidar de mim mesmo, quando eu não sabia me cuidar. Eu sinto muito por tudo que machucou, mas também sou grata por tudo que vivi. Parte de quem eu sou hoje veio de você.
Obrigada a mim. Por não desistir, por recomeçar, por transformar dor em força. Foi difícil, mas eu não me entreguei. Aprendi a caminhar com as feridas abertas até elas virarem cicatrizes.
E por fim…
Obrigada a você, que está lendo este livro.
Se você chegou até aqui, saiba que a sua dor também importa. Que sua história tem valor. E que você não está só. Espero que esse livro tenha tocado o seu coração de alguma forma. Que tenha te feito lembrar que é possível florescer mesmo depois das folhas caírem. Que há beleza em recomeçar. Que as flores escurecem… mas podem voltar a florescer.
Com amor,
Jaqueline
Autor