Os primeiros meses da pandemia resultaram no fechamento global de casas noturnas, festivais e eventos culturais, levando o setor a uma crise profunda. Segundo um relatório da Night Time Industries Association (NTIA), cerca de 31% dos clubes noturnos fecharam entre março de 2020 e dezembro de 2023, uma média de 10 fechamentos por mês.
Setores da indústria da música altamente dependentes de eventos ao vivo, como festivais e clubes, viram sua receita global cair em até 54% em 2020, de acordo com o International Music Summit Business Report 2021. A pandemia levou ao cancelamento ou adiamento de inúmeros eventos musicais, incluindo grandes festivais e turnês, resultando em perdas significativas para artistas e organizadores. No Reino Unido, por exemplo, mais de 50 festivais foram cancelados em 2024, totalizando 182 cancelamentos desde 2019. As principais razões incluem dificuldades financeiras exacerbadas pela pandemia e o aumento dos custos de infraestrutura e cachês de artistas.
Por isso, muitos profissionais da indústria — desde artistas até técnicos de som — enfrentaram dificuldades financeiras, já que sua principal fonte de renda foi interrompida. Uma pesquisa da Help Musicians revelou que 60% dos profissionais da música consideraram abandonar a carreira durante a pandemia devido à falta de suporte financeiro.
Além disso, a pandemia alterou hábitos sociais, com uma tendência crescente de eventos realizados mais cedo e uma diminuição na frequência de saídas noturnas prolongadas. Fatores como a valorização do sono, aumento dos custos e mudanças econômicas influenciaram essa mudança de comportamento.
Apesar dos desafios, a pandemia também impulsionou mudanças e inovações significativas na vida noturna e na música eletrônica. Uma das mais notáveis foi o crescimento dos eventos online. Plataformas como Twitch, YouTube e Mixcloud se tornaram alternativas viáveis para artistas e festivais se conectarem com o público. O United We Stream, uma iniciativa de clubes europeus, transmitiu performances ao vivo, gerando doações para artistas e trabalhadores do setor.
Outro efeito positivo foi o fortalecimento das comunidades locais. Com as restrições a viagens, muitos consumidores começaram a valorizar mais os artistas e eventos regionais. Clubes menores e festas locais ganharam destaque em várias partes do mundo, como apontado por um estudo da Resident Advisor em 2022.
Além disso, a reabertura gradual trouxe mudanças nos padrões de consumo. Uma pesquisa da IMS Business Report indicou que o público está mais inclinado a buscar experiências exclusivas e de alta qualidade, como eventos boutique e menores, em vez de grandes aglomerações.
À medida que o mundo se adapta ao “novo normal”, a vida noturna está passando por uma reconstrução. A demanda reprimida por eventos ao vivo levou a um boom no número de frequentadores após as reaberturas, com muitos festivais relatando recordes de venda de ingressos em 2022 e 2023. No entanto, a sustentabilidade financeira ainda é um desafio, especialmente para casas noturnas menores.
Por outro lado, o setor está cada vez mais digitalizado. A integração entre eventos presenciais e online, como transmissões ao vivo de festas exclusivas, promete ser uma tendência duradoura.
A pandemia de COVID-19 teve um impacto profundo na vida noturna e na música eletrônica, trazendo desafios significativos, mas também oportunidades para reinvenção. O setor demonstrou resiliência ao adotar novas tecnologias, valorizar artistas locais e implementar práticas sustentáveis. À medida que a indústria continua a evoluir, o equilíbrio entre inovação e tradição será essencial para garantir seu crescimento futuro.
Fontes:
International Music Summit Business Report 2021
Resident Advisor Industry Study 2022
Night Time Industries Association (NTIA)
Help Musicians Organization
United We Stream Initiative
Autor